Não quero mais estar e ser ausente!

Descobri que estou há quase 4 anos vivendo ausente. 
Ausente de quem eu sou, das pessoas, do mundo. 

 
Não foi fácil chegar a esta descoberta - na verdade, tem sido bem doloroso. 

Meu maior desejo interno era ser aceita, encontrar o meu lugar - mas nunca acreditei em mim, sempre fui minha maior adversária. Em 2012 as coisas começaram a mudar, quando decidi guardar grana para fazer um intercâmbio dali 1 ano (porém, duvidava a cada dia que conseguiria). E eu consegui. Realizei um sonho que eu tinha certeza que nunca seria capaz de realizar.

O problema é que essa experiência trouxe depressão e insatisfação com a vida que levava, e me fez crer que eu precisava viver uma vida diferente todos os dias. Eu passei a ter certeza que eu precisava largar tudo e morar fora, que nunca seria feliz no Brasil - e isso foi muito ruim. Muito mesmo.

Não tem problema nenhum em querer mudar de vida, deixar de trabalhar, tirar um ano sabático, ou morar fora - assim como é incrível a sensação de realização de um sonho. O problema está em ficar cego e não ver que tem uma vida toda passando enquanto os olhos estão direcionados a um único objetivo.

E como eu sempre fui extremamente exagerada - 8 ou 80 - em tudo, essa depressão não foi só um mal estar, mas sim minha âncora durante os próximos anos, que não só me segurou psicologicamente em um buraco, mas foi me afundando e me afastando da luz sem que eu percebesse - inclusive, me afastou de muitos amigos.

Depois de uma série de expectativas frustradas, cheguei ao ano que era pra ser o melhor da minha vida. Aconteceu tanta coisa boa - e boa mesmo - que eu não estava ali (psicologicamente) pra ver e vibrar.

2016 foi espetacular: tive um ano profissional agitado e com muita evolução, finalmente saí da casa dos pais e fui para meu primeiro apartamento, fui pedida em casamento e me casei com um cara incrível - que é meu melhor amigo e parceiro para tudo - e a rotina do dia-a-dia tinha tudo que eu poderia querer. Mas, eu não estava lá.

Estava sei lá onde, afundada num poço e vendo de longe tudo aquilo acontecendo. Parecia que estava envolta numa concha, que só me deixava espiar por um furinho e eu não conseguia sair. Por dentro, eu gritava socorro. Uma parte de mim queria sair dali e outra parte, queria sumir do mundo, se apagando e afundando todas as noites cedo num cobertor, deixando até mesmo o cachorro carente de atenção.

E eu estava ciente do que estava acontecendo e ciente que estava ausente, mas não conseguia ligar o botão "online". Não era questão de ter força de vontade. Era maior do que eu. 

Aí as crises de pânico aumentaram, pensamentos suicidas estavam sendo recorrentes, compulsão alimentar terrível seguida com alguns episódios de bulimia, e aí eu pedi ajuda - profissional (meu companheiro assistia tudo e não sabia mais o que fazer para me ajudar).

Procurei uma psicóloga e também me consultei com uma nutricionista especializada em distúrbios alimentares, e uma luz começou a aparecer no final do túnel.

2017 chegou e com ele, o efeito iô-iô. Ora me sentia super animada para me abrir pro mundo, ora uma tempestade cinza e fria me atingia e eu voltava a andar pra trás e me escondia atrás de uma árvore. Cada vez mais meu grito de socorro ficava mais evidente, porém ninguém me escutava.

Olhava pro céu e perguntava: "o que precisa pra eu sair desse buraco?". Para quem tá de fora, é muito simples a resposta - e eu mesma tinha bem claro qual seria: somente eu mesma posso me ajudar. Mas faltava um gatilho, um empurrão, e eu não sabia quando isso ia acontecer ou o que mais precisava. Eu estava era com medo de cada vez mais me afundar.

Quase na metade do ano, aceitei uma proposta nova de trabalho, que trouxe um ambiente diferente, mudança de casa e com ela, um novo olhar sobre minha vida e o que estou fazendo no mundo. Talvez, um novo propósito.

Antes mesmo de toda essa mudança ocorrer, fiquei relutante, chorei com medo do desapego do emprego que já tinha, da cidade incrível que morava, e do medo insuportável do novo. Logo eu, que sempre gostei tanto de mudar! Contraditório, não?

Foi aí que veio o insight: eu precisava aceitar essas mudanças de perto aberto - me abrir para receber tudo que vem e deixar ir tudo o que ficou pra lá.

Com isso, decidi resgatar algumas das amizades que afastei quando eu estava no escuro, e me forcei a ver tudo por um outro ângulo. Minha empatia, que estava no chão, começou aos poucos a crescer.

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Ainda estou subindo a escada do fundo do posso, tenho muito medo de escorregar e cair novamente, mas estou com esperanças. 

Perdi o pedido de casamento que sempre esperei. Perdi ótimos momentos em minha primeira casa. Perdi tantos sorrisos com amigos. Mas eu não quero mais perder nada.

A jornada não vai ser fácil e sei que várias vezes ao dia a escuridão vai bater, mas eu vejo um novo começo agora.

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